Sorria, está a ser vigiado.

Fonte: https://vidaextra.expresso.pt/vida/2019-03-18-Sorria-esta-a-ser-vigiado.-Pode-fugir-mas-nao-se-pode-esconder-do-seu-Android

 

Sorria, está a ser vigiado. Pode fugir, mas não se pode esconder do seu Android

Estudo elaborado por especialistas espanhóis analisou 1700 dispositivos, de 214 fabricantes, e detetou sofisticadas técnicas de rastrear a localização, lista de contactos, mensagens ou e-mails

André Manuel Correia

Imagine que acabou de comprar um novo smartphone, equipado com o sistema Android, que abrange 80% do mercado global. Acabou de o retirar da caixa, está entusiasmado, liga o dispositivo pela primeira vez e assim se acende imediatamente uma luz discretamente indiscreta, a operar na penumbra, focada em saber tudo sobre as suas rotinas.

Ainda antes de instalar apps como o Facebook, Instagram ou o Tinder — que lhe pedem permissão para aceder a algumas informações —, já o seu telemóvel deu match, sem aviso prévio, com muitos dos seus dados pessoais, num date pouco romântico que abre caminho a um casamento com a devassa da privacidade. O software que vem pré-instalado de fábrica é um agente infiltrado quase perfeito para saber onde está, que mensagens envia, que músicas ouve, entre muitas outras coisas.

“As apps pré-instaladas são a manifestação de outro fenónemo: acordos entre diversos atores (fabricante, comerciantes de dados, operadores, anunciantes) para dar, à partida, um valor acrescentado, mas também com finalidades comerciais”, começa por explicar Juan Tapiador, professor da Universidade Carlos III, um dos autores da investigação que explora este submundo do universo Android. “O mundo Android é muito selvático, é como estar no faroeste, especialmente em países com uma escassa proteção de dados pessoais”, adverte o pesquisador.

As informações pessoais recolhidas são automaticamente fornecidas a uma vasta rede de destinos, como servidores do fabricante do aparelho, ou a empresas habitualmente acusadas de espreitar as vidas dos utilizadores – como Facebook ou Google. Os dados chegam ainda às mãos de um obscuro leque de empresas e startups que reúnem dados dos utilizadores, agregam-nos e vendem-nos a quem pagar melhor para ter acesso à intimidade de cada um de nós. “Essa informação, por vezes, é descomunal: relatórios extensos com características técnicas do telefone, identificadores únicos, localização, lista de contactos, mensagens ou e-mails”, desvela Juan Tapiador.

Um smartphone comum pode vir equipado com mais de 100 aplicações pré-instaladas, muitas delas especializadas em vigilância e publicidade, e “exercer controlo regulamentar sobre todas as versões possíveis de Android no mercado é quase impossível”, uma vez que iria requerer “uma análise muito extensa e dispendiosa”, complementa o especialista Narseo Vallina-Rodríguez.

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