“Sabemos que o fosso das desigualdades se alrgou no decurso das duas décadas ultraliberais (1979-2001), mas como poderíamos imaginar chegar a tal ponto? Sabe-se que as três pessoas mais ricas do mundo possuem uma fortuna superior à soma dos produtos internos brutos dos 48 países mais pobres, ou seja, um quarto do total de Estados do planeta… Em mais de setenta países, o rendimento por habitante é inferior ao que era há vinte anos. À escala planetária, quase três mil milhões de pessoas – metade da humanidade – vivem com menos de dois euros por dia… A abundância de bens atinge níveis sem precedentes, mas onúmero dos que não têm tecto, nem trabalho nem de comer aumenta sem cessar. Cerca de um terço dos quatro mil milhões e meio de habitantes dos países em vias de desenvolvimento não têm acesso a água potável. Um quinto das crianças não acede à quantidade suficiente de calorias ou de proteínas. E
cerca de dois mil milhões de indivíduos – um terço da humanidade – sofrem de anemia.
Tal situação é forçosamente fatal? Não, absolutamente.
Segundo as Nações Unidas, para dar a toda a população do
globo o acesso às necessidades elementares (alimentação, água potável, educação, saúde) bastaria retirar, nas 225 maiores fortunas mundiais, menos de 4% da riqueza acumulada. Conseguir a satisfação universal das necessidades sanitárias e nutricionais custaria apenas treze mil milhões de euros, sensivelmente o mesmo que os habitantes dos Estados Unidos e da União Europeia gastam, por ano, no consumo de… perfumes.”