Não sou de elogio ou crítica fácil. Ninguém me ouvirá dizer que A, B ou C são divinais ou fantásticos apenas porque é socialmente correcto, dá ares de grande erudição ou por puro pretensiosismo bacoco.
Sucede, porém, que no dia 20 de Fevereiro (Sábado) assisti a um recital de Maria João Pires e Pavel Gomziakov.
Eis o Programa:
I
Beethoven: Sonata para violoncelo e piano, nº.2 em Sol menor, Op.5
Beethoven: 32 variações em Dó menor para piano, WoO80
II
Beethoven: Sonata para piano, nº 17 em Ré menor, Op.31, nº.2 (Tempestade)
Beethoven: Sonata para violoncelo e piano nº.3 em Lá maior, Op.69
Simplesmente fabuloso. O mais impressionante é a forma como este duo se entende: como se se tratassem de dois corpos fundidos numa alma, não se percebe uma contagem, um gesto, um trejeito, mas, de repente, a música flui em comunhão de pensamento.
Ouvir e ver tocar Maria João Pires é uma epifania. As notas saem, cristalinas; cada uma vale por si. Nunca se tem a sensação de alguém estar a martelar o piano (lamento, mas tive essa sensação com o Berezovsky). Como estava num lugar fantástico, atrás do palco, apercebi-me de pormenores deliciosos, como o tempo de reverberação de um conjunto de notas.
Também gostei de Pavel Gomziakov. Decidido, impetuoso, profissional.
O encore final é uma ária que toquei, no clarinete, centenas de vezes.
Recomendo: experiências destas são um deleite.