No início, era a voz. E os ossos, os troncos, as peles e as pedras. No início eram as mãos e os pés, o ruído e o ritmo. Assim começou a música: um osso a quem foi retirada a medula e onde se abrem orifícios é uma primeira flauta rudimentar, tal como com um pedaço de madeira se faz um tambor. O corpo humano é um manancial incrível de sons e até a pulsação parece obedecer à oscilação da cabeça da esquerda para a direita.

Em Divjer Babe, actual Eslovénia, terá sido inventada a primeira flauta: um osso com orifícios inexplicáveis. O mesmo terá acontecido noutros sítios, como Geissenklosterle, sudeste da Alemanha.
As gravuras rupestres mostram frequentemente humanos a cantar, tocar, dançar. Mas o primeiro instrumento musical não terá sido uma flauta: é mais provável que tenha sido o próprio corpo humano, que
permite fazer vocalizações e produzir sons por percussão. Flautas e xilofones terão surgido há menos de 40000 anos, ainda que as escalas e harmonias tenham surgido apenas nos últimos 5000 anos: ao tocar uma melodia, o músico deve ter sentido necessidade de encontrar uma “boa forma” para acabar, ou seja, uma tónica, uma nota fundamental que estruturasse a melodia.