Texto 001 – A evolução

A ESPÉCIE HUMANA

Charles Darwin, um presbítero ordenado pela Igreja Anglicana, publicou em 1851 a sua obra A Origem das Espécies, após duas viagens à volta do mundo a bordo do navio Beagle. Acumulando meticulosamente observações sobre as diferentes espécies animais, Darwin definiu uma perspectiva sobre a evolução dos animais e dos seres humanos bastante diferente de qualquer outra anteriormente defendida. Embora em tempos mais remotos fosse comum as pessoas acreditarem em seres que fossem meio animais, meio humanos, com as descobertas de Darwin tais possibilidades foram completamente postas de parte. Darwin reivindicuou a descoberta de uma continuidade na evolução dos seres humanos a partir dos animais. As nossas características humanas, segundo ele. são o resultado de um processo de mudança biológica que pode fazer remontar às origens da vida na Terra, há mais de três biliões de anos atrás. A opinião de Darwin sobre os animais e humanos foi, para muitos, muito mais difícil de aceitar do que as tais criaturas semi-humanas e fantásticas. Ele iniciou uma das mais debatidas teorias da ciência moderna, embora convincente – a teoria da evolução.

 

A evolução

Segundo Darwin, a evolução da espécie humana surgiu como resultado de um processo aleatório. Em muitas religiões, incluindo o Cristianismo, animais e seres humanos são vistos como criação da intervenção divina. A teoria evolucionista, pelo contrário. encara a evolução das espécies animais e humana como algo desprovido de intencionalidade. A evolução é o resultado do que Darwin chamou selecção natural. A ideia de selecção natu­ral é simples. Todos os seres orgânicos necessitam de alimento e de outros recursos, como a protecção face a extremos climáticos, de modo a permitira sobrevivência; mas não há recur­sos suficientes que sustentem todos os tipos de animais que existem num determinado período, na medida em que eles produzem mais descendência do que a alimentação disponível. As espécies mais bem adaptadas ao meio ambiente são as que sobrevivem, enquanto outras espécies, menos capazes de lidar com as suas exigências, morrem. Alguns animais são mais inteligentes, movem-se mais rapidamente e têm uma melhor visão do que outros. Na luta pela sobrevivência, estão em vantagem sobre os menos dotados.Vivem mais tempo e são capazes de se reproduzir, passando as suas características às gerações subsequentes. São os ((seleccionados>> para sobreviver e reproduzir-se.

Existe um processo contínuo de selecção natural em virtude do mecanismo biológico da mutação. Uma mutação é um conjunto de mudanças genéticas aleatórias que alteram as características biológicas de alguns indivíduos de uma espécie. Grande parte das mutações são ou inúteis ou prejudiciais, em termos do seu valor para a sobrevivência, mas algumas dão a um animal vantagem competitiva sobre os outros: indivíduos que possuem genes mutantes têm tendência para sobreviver à custa de outros que não os têm. Este processo explica tanto as mudanças sem grande significado que ocorrem numa dada espécie como as mais significativas que levam à extinção de espécies inteiras. Por exemplo, há muitos milhões de anos atrás, prosperavam répteis gigantes em várias regiões do mundo. O seu tamanho tornou-se um óbice à medida que as mutações que ocorriam em outras espécies mais peque­nas lhes davam capacidades superiores de adaptação. Os primeiros antepassados dos homens encontram-se entre estas espécies com melhores capacidades de adaptação.

Embora a teoria da evolução tenha vindo a ser aperfeiçoada desde o tempo de Darwin, a essência da posição de Darwin sobre a evolução é ainda hoje largamente aceite.

Anthony Giddens, “Sociologia”, Fundação Calouste Gulbenkian

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