Sociedades (tipos de): A enumeração e a classificação das sociedades globais são uma das tarefas que os sociólogos se atribuíram desde a constituição da sua disciplina. Os inventários e as tipologias que daí resultaram manifestam, pela sua própria diversidade, a relatividade de uma empresa que está em primeiro lugar estreitamente dependente dos critérios escolhidos. Além disso, uma hierarquização das diferentes formas de organização social acha-se aí muitas vezes sub-reptícia ou abertamente associada.
A distribuição das sociedades entre diferentes tipos é solidária de qualificações (“tribal”, “teocrática”, “industrial”…) que condensam os traços específicos respectivamente comuns a agrupamentos humanos. Podemos classificar estes últimos em função do modo de ocupação do solo, do volume e da densidade. Distinguiremos assim as sociedades de caçadores e as de agricultores, opondo o nomadismo pastoril ao tipo de vida sedentária. É a partir deste ponto de vista, que é o da morfologia social, que É. Durkheim estabeleceu os grandes tipos de estrutura social. Da horda, simples justaposição de indivíduos às sociedades polissegmentárias complexas, passando pelo clã, pelas sociedades polissegmentárias simples, etc., foram “unidades sociais” que ele combinou, adiantando que as sociedades são tanto mais volumosas quanto mais avançadas. A divisão do trabalho forneceu a Durkheim um princípio geral de oposição entre a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica, do mesmo modo que a análise do acordo social levou F. Tönnies (1887) a distinguir o tipo comunitário e o tipo societário, categorias fundamentais que seguidamente cruzou com as noções genéricas de relações, agrupamentos e associações. É igualmente qualificando-as de primitivas ou modernas, de arcaicas ou desenvolvidas, de tradicionais ou industriais, de holistas ou individualistas, que historiadores, etnólogos e sociólogos distinguem os principais tipos de sociedades. Estas séries de oposição assentam na tomada em consideração de variáveis diferentes. Estas últimas são, por exemplo, essencialmente económicas na dupla tradicional/industrial concebida a partir das mudanças consecutivas à Revolução Industrial; a sua valorização corresponde, portanto, à do económico na sociedade moderna e é acompanhada de uma alteração dos caracteres originais das sociedades “tradicionais”.
Simples ou complexa, a distribuição das sociedades em tipos distintos não chega, em última análise, a desligar-se de um esquema evolutivo. Se fica claro que o nomadismo pastoril não é “inferior” à vida sedentária, é igualmente evidente que a corrente principal da evolução histórica vai da caça para a agricultura, que traz consigo a fixação ao solo. Centrada no papel determinante dos modos de produção, a tipologia das sociedades globais em Marx reconduz-se também a uma sucessão dialéctica de tipos sociais que vão da sociedade primitiva – fundada no parentesco, na apropriação colectiva do solo e das ocupações “naturais” (caça, pesca, apanha) – à sociedade comunista sem classes. A diferenciação complica-se com a especificação dos modos de produção: escravista, feudal, germânica, asiática, capitalista, socialista.
A questão da escolha dos critérios e dos tipos intermédios coloca-se igualmente a partir do momento em que se pretende classificar politicamente as sociedades. Deste ponto de vista, é preciso ter em conta a utilização do espaço, a forma do governo e a estrutura da colectividade, assim como o sistema jurídico em vigor. Mas o critério fundamental será a atribuição do poder global.
A dupla preocupação de evitar toda a categorização prévia e de afinar ao máximo a tipologia das sociedades globais levou G. Gurvitch (1955) a distinguir uma enorme variedade de tipos sociais. Decompôs as sociedades arcaicas em quatro espécies, as sociedades históricas em seis (carismáticas, patriarcais, feudais…) e as que são posteriores à Revolução Industrial dão lugar a uma longa enumeração (sociedades democrático-liberais, dirigistas, planificadas…) de difícil exploração. Privilegiando os sistemas de valores e as orientações fundamentais, T. Parsons (1966) propôs também ele uma tipologia complexa. Voltamos pois à questão formulada por A. Giddens a propósito da pesquisa dos princípios estruturais: “Quais são os níveis de abstracção que valem a pena ser distinguidos no estudo das propriedades estruturais dos sistemas sociais?” Para lhe responder, abandonou o lado formal da tarefa para se pôr à procura “de elementos situados mais perto do conteúdo empírico”. Definiu assim os princípios estruturais como “princípios de organização das totalidades societais” e, mais precisamente, como conjunto de “factores postos em jogo no alinhamento global das instituições de uma sociedade ou de um tipo de sociedade”. A distribuição dos tipos de sociedades em três grupos que ele propõe (sociedade tribal/sociedade dividida em classes/sociedade de classes) tem o mérito de integrar um número bastante elevado de elementos distintivos, sem cair na esquematização demasiado sumária nem na interminável enumeração.
Muito esse texto, ótimo para estudos