«Todos conhecemos a opinião dominantemente negativa da influência da televisão sobre as crianças e os jovens, nomeadamente no que respeita ao fascínio que sobre eles exerce em detrimento do estudo. A televisão é acusada de roubar tempo que deveria ser utilizado na leitura, no estudo, na prática do desporto ou no convívio familiar; é acusada de habituar à passividade e de criar maus hábitos alimentares, de desinteressar as crianças e os jovens da leitura e, de uma forma geral, da escola, de habituar à violência e de criar modelos sociais de agressão física e moral, de destruir o convívio familiar, de legitimar a vulgaridade e o mau gosto.
Por outro lado, qualquer professor pode constatar nos recreios e nas aulas que os seus alunos imitam comportamentos e atitudes, utilizam uma linguagem recheada de onomatopeias, léxico e referências implícitas, directamente vindos de séries televisivas, de publicidade, de filmes e de desenhos animados passados na televisão. ( … )
Os universos da escola e da televisão opõem-se pelas normas que os regem: à facilidade, à simplificação e ao imediatismo da TV, a escola contrapõe a complexidade do raciocínio, o esforço continuado e a reflexão crítica.
No estrito campo da oralidade, a televisão representa a língua vária, os modelos orais não valorizados ou mesmo ignorados pela norma escolar, o reforço e a legitimação de situações conversacionais diversas e a-escolares. Por outro lado, e no campo dos instrumentos de socialização, a TV ganha à escola em precocidade de intervenção, não só pelo lugar privilegiado que actualmente ocupa como guardiã da infância como na apresentação de modelos sociais, de normas de comportamento e mesmo de projectos de futuro a que a criança e o jovem se vai habituando como telespectador.»
Maria José Seixas, “, Mesmo nos concursos a gente aprende coisas»,
Televisão e Escola – um conflito de universos e discursos”
in Educação, Sociedade e Culturas, n.° 8, 1997