Dizer bem 2

Hannah Arendt tem posições sobre educação muito interessantes – escusado será dizer que concordo com ela.

Leia-se isto, isto e isto: aqui ela expõe como a Escola Moderna, a pedagogia libertária e o pensamento de Rousseau constituíram aquilo que hoje designamos genericamente como “eduquês” e demonstra como o pensamento político de uma certa esquerda, sobretudo os anarco-comunistas, se identificaram com esses princípios pedagógicos. Demonstra também como esses princípios pedagógicos estão obviamente errados: a negação da autoridade do professor, o primado das competências sobre os conhecimentos, a ênfase nas competências práticas em detrimento da teoria, a confiança na capacidade de auto-gestão das crianças, a iniquidade dos exames nacionais, o facilitismo pretensamente (e pretensiosamente) democrático, etc. Demonstra claramente por que razão esses princípios são maus princípios.

Hannah Arendt foi uma teórica política alemã, muitas vezes descrita como filósofa, apesar de ter recusado essa designação.

Nascida numa rica e antiga família judia de Linden, Hanôver, fez os seus estudos universitários de teologia e filosofia em Königsberg (a cidade natal de Kant, hoje Kaliningrado). Arendt estudou filosofia com Martin Heidegger na Universidade de Marburgo, relacionando-se passional e intelectualmente com ele. Posteriormente Arendt foi estudar em Heidelberg, tendo escrito na respectiva universidade uma tese de doutoramento sobre a experiência do amor na obra de Santo Agostinho, sob a orientação do filósofo existencialista Karl Jaspers.

A tese foi publicada em 1929. Em 1933 (ano da tomada do poder de Hitler) Arendt foi proibida de escrever uma segunda dissertação que lhe daria o acesso ao ensino nas universidades alemãs por causa da sua condição de judia. O seu crescente envolvimento com o sionismo levá-la-ia a colidir com o anti-semitismo do Terceiro Reich o que a conduziria, seguramente, à prisão. Conseguiu escapar da Alemanha para Paris, onde trabalhou com crianças judias expatriadas e onde conheceu e tornou-se amiga do crítico literário e místico marxista Walter Benjamin. Foi presa (uma segunda vez) em França conjuntamente com o marido, o operário e “marxista crítico” Heinrich Blutcher, e acabaria em 1941 por partir para os Estados Unidos, com a ajuda do jornalista americano Varian Fry.

Trabalhou nos Estados Unidos em diversas editoras e organizações judaicas, tendo escrito para o “Weekly Aufbau”. Em 1963 é contratada como professora da Universidade de Chicago onde ensina até 1967, ano em que se muda para a New School for Social Research, instituição onde se manterá até à sua morte em 1975.

O trabalho filosófico de Hannah Arendt abarca temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral, a violência, e a condição de mulher.

5 Comments

  1. Não conseguindo entrar na onda do dizer bem, consigo dizer que também concordo consigo e com a Hannah Arendt.
    Há por aí muitos profs (os/as) que deveriam ler estas coisas; de vez em quando “publico na parede da sala dos professores”da “minha escola” algumas coisas assim, bem ampliadas e algumas sublinhadas, para facilitar a leitura .

  2. Caro Miguel:
    Lá irei. No relance que dei, pareceu-me que há alguns equívocos semânticos – ou subterfúgios retóricos. Mas tratarei de ler, com calma e sem preconceitos, os ditos de Olga Pombo.

  3. Susana:
    Agradeço as suas simpáticas palavras. Não é fácil concordar cm a Hannah Arendt, pois trata-se de uma autora desprezada pela esquerda ortodoxa e odiada pela direita neoliberal. Confesso que tenho um certo desprazer quanto a Heidegger: pela prosa, pela filosofia, pelas conotações políticas. O texto de Hannah Arendt é efectivamente muito interessante, sobretudo se pensarmos que é um debate que dura há décadas.

  4. Pois, Miguel, já li o texto da Olga Pombo.
    Fiquei surpreendido com a clarividência com que ela assume os erros historicamente cometidos e, inequivocamente, dá razão a Hannah Arendt. Vou reservar para um post específico algumas citações da própria Olga Pombo. A distinção que faz entre ensino e educação, defendendo claramente o primado do ensino, é exactamente o que venho defendendo há muito tempo. Pelos vistos, estamos de acordo.
    Na mesma linha, proponho a leitura de http://www.apm.pt/files/_Apresentacao_Prof_Amilcar_Coelho_43fefe051190a.pdf Trata-se de um interessantíssimo texto que corrobora as teses de Hannah Arendt e expõe as insuficiências das pedagogias libertárias, que o próprio designa como “românticas”

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